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Surf Art nas pinceladas de Fernando Bari
Conversamos com Fernando Bari, artista, curador de arte e criador do cabecafeita.com, um portal focado em propagar a cultura e a informação educacional através da arte de diversos artistas que expressam e vivem a cultura surf.
Uma figura bem conhecida em eventos do Ibrasurf, Bari respira arte. Confira a entrevista “inspiradora” que ele nos cedeu:
IBRASURF: Como surgiu a idéia do cabecafeita.com?Bari: A ideia surgiu quando eu navegava na internet buscando desenhos de onda para pintar uma tela. Foi um pouco difícil achar algo na época. Ao me deparar com uma onda do artista Kem McNair fiquei amarradão, pois me lembrei da época da escola, a onda era muito parecida com as que eu desenhava nos cadernos. Isso ativou minha curiosidade e passei a pesquisar mais e mais. Fui ficando cada vez mais fascinado pelo assunto, até chegar aos tradicionais John Severson, Phil Roberts e Rick Rietveld. Saquei ali que havia realmente arte baseados em técnicas acadêmicas e não só dos desenhos. Fiquei tão feliz por saber que havia tantos caras bons fazendo arte com o surf, que algum tempo depois resolvi montar um blog. Fiz uma homenagem para o artista havaiano Clark Takashima, ele gostou e elogiou tanto que foi um incentivo a continuar postando, aí fui me envolvendo cada vez mais.
IBRASURF: Falando um pouquinho de mercado. Você acha que dá para viver APENAS de Surf Art? Esse trabalho é valorizado no Brasil?Bari: Na realidade acho que com dedicação, qualquer tipo de arte é viável como profissão. Na Surf Art não é diferente, temos o bom exemplo do estimado artista Tom Veiga, que ganhou o mundo, porém ele se dedica muito, as coisas não caíram do céu para o Tom, o cara corre atrás, vai pra cima. Recentemente ele deixou seu cargo em uma agencia de publicidade para se dedicar integralmente a arte, mostrando a todos que é sim possível.
Quanto a valorização, acho que é uma combinação de alguns fatores: Alguns veículos “flertam” com o movimento, mas ainda falta muito, é superficial demais! Temos grandes artistas no Brasil, utilizando inovadoras técnicas de pintura, esculturas e fotografia, e eu não vejo um aprofundamento eficaz dos veículos ou marcas de surf atuais. Não oferecem um material educacional relevante ou realmente interessante para suas audiências, isso requer pesquisa e conhecimento, os caras acham algo bonito, ou que esteja bombando em redes sociais e publicam…Temos muito recurso artístico no Brasil, no qual poderiam render reportagens alucinantes, e eficazes no âmbito da informação e educação em artes pra quem consome mídia, seja televisiva, impressa ou online.
IBRASURF: Como surgiu o termo Surf Art?
Bari: Não vejo Surf Art como um termo, e sim como um movimento artístico, evoluindo e crescendo com quem participa ativamente dele! Principalmente pela espontaneidade dos artistas e do lance todo, isso naturalmente resulta em rótulos, onde se define o tipo de arte aplicada. Vejo a Surf Art surgindo assim como os movimentos do cubismo ou expressionismo, onde um grupo de artistas estão preocupados apenas em expressar seu cotidiano, suas vontades e suas inspirações, sem maiores preocupações, apenas flui! Esse processo, evidentemente, com o tempo resulta em um movimento artístico. Daqui a cem anos, nos livros de história da arte quem sabe não rola o verbete Surf Art, descrevendo esse grupo de malucos que expressam as ondas e o mar.
IBRASURF: Na sua opinião, quais grandes nomes representam a arte Surf no Brasil e no mundo?
Bari: Como citei anteriormente, é um grupo de artistas, e esse grupo está unido e fortalece o movimento. Eles trocam informações, apreciam os trabalhos e técnicas uns dos outros e aprendem entre si, dando continuidade à arte. Um bom exemplo disso, e um dos pioneiros no assunto, é o Mestre Maritmo. Além da sua técnica apuradíssima, já presenciei-o ensinando outros artistas, ou dando dicas técnicas e informações de uso de materiais, etc. Na minha opinião, toda arte tem sua sacada, por mais simples ou sofisticada que seja, tem sua peculiaridade, sua história.
Pra citar alguns: Flavio Caporali, Erick Wilson,Cláudia Simões, João Vianey, Hilton Alves, Fernanda O`connell e Maritmo, estão na ativa há anos já. O Rio de Janeiro é especialmente um seleiro de bons artistas como Leandro Silva, Marcelo Vieira, Daniel Martinelli, Bê Sadala. Espalhados Brasil afora, como a Rosa Angelia e Bruno no nordeste. Há muitos outros, mas não caberia aqui…. Na gringa, eu particularmente curto muito o trabalho do John Serveson, aquarelista e um dos pioneiros. Também Rick Griffin e Drew Brophy por propagar o movimento desde os anos 70. Me amarro nas esculturas e pirações do Ithaka. Acho o trabalho do Wade Koniakowsky muito expressivo, com poucas pinceladas o cara passa a mensagem.
IBRASURF: Você também é um grande artista…. Conte-nos um pouquinho de seu trabalho. Quais são suas inspirações?Bari: Meu trabalho é uma eterna experiência, um aprendizado contínuo. Gosto de experimentar coisas. Basicamente trabalho com aquarelas. Tenho um ritual pacífico ao misturar tintas até chegar ao tom que me provoque alguma sensação, isso faz minha cabeça na arte.
Inspiro-me principalmente nas estrelas e constelações, gosto da relação que os gregos e os índios tinham com o céu. Na real, os caras faziam arte sem pincel, já que as constelações foram criadas com retas interligando estrelas próximas uma das outras, resultando na forma primordial de um desenho, algo como ligar os pontinhos até achar um desenho lá no espaço, é o uso puro da imaginação.
Já no Surf, me inspira um rolê de bike e as sensações que isso provoca. Espírito livre de interferências: é você, o mar e a brisa.
IBRASURF: Qual a relação do surf na sua vida e no seu trabalho?Bari: No final dos anos 70, com alguns meses de vida já rodava as praias com meu pai. Comecei a surfar mesmo com 11 anos quando minha família se mudou para a praia. De lá pra cá não parei mais, até influenciar meu trabalho. Sou diretor de arte, passei por algumas agencias até cair no âmbito esportivo. Primeiramente foi o futebol, trabalhei alguns anos no departamento de criação do São Paulo FC, dentro do Morumbi. Daí me injuriei e fui morar em Floripa, surfando pacas e trampando com o Avaí F.C, mas meu foco era o mercado do surf, então passei a ser editor de arte no jornal Drop. Após alguns anos voltei pra Sampa para trabalhar com os irmãos Lumbras, na agencia de mesmo nome focada no surf, foi uma escola pra mim, os caras são demais e me ensinaram muito. Lá fiz criação para várias marcas de surf. Hoje tenho meu próprio estúdio de design e atendo marcas relacionadas ao esporte. Além disso, estou envolvido em projetos ligados à arte, realizando exposições e eventos há alguns anos. Nas minhas pinturas, tenho o apoio da marca de roupas Seal Brazil, e estou assinando a coleção de verão 2013 da marca.
IBRASURF: Quais as principais exposições que você realizou curadoria?Bari: Em exposições coletivas, além das ações no Paulista Universitário e USP realizei a Mostra Surf Art Brazil reunindo mais de 160 obras de arte relacionadas ao surf. Nas exposições solo, já fiz as exposições de Erick Wilson, João Vianey, Lolô Camargo e também do mestre Ithaka.
IBRASURF: Através de sua curadoria, você participou de importantes eventos universitários, como o Paulista Universitário de Surf e o Curso de Surf na USP, ambos realizados este ano. Qual a importância de sua participação nisso, digo no fato de levar esse tipo de arte para o público universitário?
Bari: Bom, no circuito universitário, é o segundo ano que participo, organizando a parte artística e fazendo a curadoria. A principal meta da minha participação no projeto é compartilhar a arte de forma fluida e direta, ou seja, levando informação técnica e acadêmica para os alunos, assim como fornecer para o artista o feedback que absorvo durante o processo, é um intercâmbio cultural na verdade.
A estrutura do evento abre possibilidades genuínas para trocas de experiências entre universitários e artistas. Além das exposições das telas dos caras que não estão presentes fisicamente no evento, levamos também artistas para apresentação e performances nas universidades, apresentando técnicas variadas de pintura , em diferentes superfícies como telas, shapes de skate, pranchas de surf e até murais. Esse procedimento abre a mente dos alunos, pois estamos levando ideias novas, diferentes possibilidades e fomentando tendências. Isso transforma o evento em uma espécie de workshop artístico. É eficaz para todos envolvidos, desde o mais experiente até os novatos.
Um fator relevante no evento, é que sempre ingressamos os próprios alunos das universidades nas exposições e performances, incentivando-os a praticar arte e principalmente, dar a chance dos universitários mostrarem seus trabalhos, tendo em vista que parte destes artistas são iniciantes.
Nos cursos da USP estamos há três anos levando arte para os inscritos e a Surf Art é sempre bem recebida e absorvida pelos presentes. Para quem participa, o Ibrasurf oferece ao artista a participação integral no curso de marketing no surf. Esse lance é bem positivo, pois os caras assistem palestras com verdadeiras feras do mercado, abrindo mais possibilidades de negócios, além do network com gerentes de grandes marcas e instituições.
Esse ano de 2012 foi bem agitado, rodamos as principais Universidades de São Paulo mandando muita tinta e fazendo a cabeça da galera.
É fundamental uma instituição ter este tipo de iniciativa oferecendo oportunidade real de crescimento ideológico, técnico e profissional. Aproveito a oportunidade em nome dos artistas envolvidos para agradecer ao Ibrasurf pela parceria e as boas vibrações compartilhadas ao longo do ano.
Mahalo e boas artes!!