Monday, May 6, 2013

Sagres Surf Culture. Ithaka is also “mad”

http://www.ionline.pt/artigos/surf/sagres-surf-culture-ithaka-also-mad

Por Beatriz Silva publicado em 4 Maio 2013 - 07:00


Natural da Califórnia, as suas viagens são o ponto de encontro do surf, da arte e da música, mas é no mato que está toda a beleza. Conheça o seu trabalho até amanhã, em Sagres
Vive no meio do mato e é lá que encontra a sua inspiração para surfar, fazer as suas esculturas, fotografar e compor a sua música. Faltará alguma coisa a Ithaka para terminar a vida em grande? O artista conta-nos que ainda quer apostar no cinema, mas vamos com calma. Acabado de chegar a Sagres, aproveitámos para conhecer um pouco melhor este autodidacta multifacetado. Com o tempo apertado, convida-nos para almoçar, e é aqui que começa a contar a sua história.

Natural da Califórnia, Ithaka começou muito cedo com todos os seus projectos. “Desde os cinco anos que fazia fotografia porque o meu pai era amante da fotografia e as minhas primeiras actividades criativas foram nesta área. Depois, com 17, 18 anos, comecei a fazer outras experiências visuais com materiais alternativos, como prateleiras e portas”, conta--nos. Foi aqui que nasceram as pranchas reencarnadas, e são algumas destas que podemos ver em exposição no Sagres Surf Culture, a decorrer onde o próprio nome indica até domingo. Com mais de 300 peças feitas, Ithaka vai buscá-las ao lixo ou apanha-as partidas à beira-mar. “Tinha uma prancha partida no meu apartamento em Hollywood e um dia dei por mim sem nada para pintar, sem uma tela, sem uma porta. Peguei na prancha partida e vi-a de outra maneira. Nos primeiros anos em que trabalhei nelas mudei as linhas originais e dei uns tons dourados, que acabei por ir modificando com o tempo”, explica-nos.

A paixão pelo surf apareceu no meio de tudo isto e hoje o californiano, que se iniciou com o bodyboard, viaja regularmente à procura de ondas boas. “Não vivi perto da praia, mas já tinha interesse pelo surf porque o mercado ao lado de casa vendia revistas de surf e as capas chamavam-me a atenção.” Começou a surfar aos 12 anos, depois de uma viagem que o marcou para sempre. “Tinha um amigo na escola. O pai dele era arquitecto e na época, como a minha família não tinha dinheiro para fazer férias e o pai do meu amigo estava a construir um hotel na ilha de Maui, no Havai, convidaram-me para passar uma semana lá. Durante esta viagem alugámos um barco para pescar e chegamos à baía de Honolua, onde existem as melhores ondas do mundo. Tinham quase 2 metros e vi pela primeira vez na vida ondas sobre o coral e gajos a surfarem-nas. Foi nesta viagem que comecei a surfar.” Mas o dinheiro era pouco e as pranchas muito caras. “Na época vendi a bateria que tinha em casa para comprar uma prancha”, revelou.  Porém, mesmo sem bateria, a música não ficou por aqui.

DA COSTA AO INTERIOR Apesar de ter escolhido o mato no litoral sul do estado de São Paulo, no Brasil, para viver, Ithaka não pára quieto e é nas suas viagens que se baseia para transmitir ao mundo o que sente através das diferentes artes. Se na Grécia procurou as suas origens, foi no Japão que meteu na cabeça que queria vir até Portugal e conhecer o que o pequeno canto do continente mais antigo do mundo tem para oferecer. Questionado sobre escolha, o surfista explica que “estava cansando do sonho americano e da ilusão dos Estados Unidos como centro do universo”. “Eu sempre lutei contra isso e fui viajando. Passei pela Grécia, estive um ano no Japão e já tinha Portugal em mente. Não sei se criei esta ilusão, mas sentia que este país estava a chamar-me.” Nada acontece por acaso. “Um dia, a andar na calçada em Tóquio, estava a pensar num futuro em Portugal e vi um pedaço de cortiça na água. Pisei, apanhei e vi escrito: fabricado em Portugal. Fiquei com aquilo na cabeça.”
Com o trabalho fotográfico sempre presente e a viver no Bairro Alto, foi aqui que a música se apurou. “Tudo começou com uma rubrica na Rádio Comercial, em que falava de música americana. Mas um dia acabou e, como já escrevia uns poemas, a produção achou boa ideia ler as letras que tinha escrito com o som de hip hop de fundo e foi lá que encontrei o DJ Vibe. Depois disto convidaram-me para fazer uma participação com a música “So Get up”, que foi a minha primeira canção. Depois lancei o meu primeiro álbum”, conta.

“SEABRA IS MAD” Para quem não conhece, José Seabra é actualmente director de marketing da Quiksilver em Portugal. Mas antes disso aproveitou bem a sua época para apanhar ondas e foi neste palco que Ithaka o conheceu. “Há muito tempo, numa viagem na ilha da Madeira, surfámos no Jardim do Mar. Eu e ele dentro de água. E foi impressionante a coragem dele. Não era como no Havai, onde já havia salva-vidas, helicópteros. Éramos apenas nós e o João Valente na areia a filmar. Ele [José Seabra] é louco de uma maneira calma.” Ithaka também, e é sobre esta surfada que fala a canção.

http://www.ionline.pt/artigos/surf/sagres-surf-culture-ithaka-also-mad

Wednesday, May 1, 2013

Experiência instrumental - Voiceless Blue Raven (Revista Fluir)


Experiência instrumental

Música, fotografia, artes plásticas e surf. Essas são apenas algumas das atividades que o californiano Ithaka, radicado no Brasil, exerce em seu dia a dia durante suas viagens pelo globo. Norte-americano de origem grega, Ithaka já viveu em países como Grécia, Portugal e Japão.
Surfista fissurado, Ithaka já surfou em picos no Marrocos, Quênia, Tanzânia, Cabo Verde, Filipinas, Indonésia, Nova Zelândia, México, Peru e Alaska, mas foi na pacata praia de Mongaguá, no litoral sul de São Paulo, que o viajante firmou sua morada e atualmente desenvolve seus projetos. Foi lá que ele formatou seu oitavo CD, Voiceless Blue Raven, primeiro álbum totalmente instrumental, que reflete as experimentações e curiosidades deste multiartista. Confira abaixo uma entrevista concedida recentemente pelo músico ao site da revista SURFPortugal. 
Por que um álbum instrumental agora? 
Nos últimos anos tenho mergulhado mais e mais no mundo da produção musical eletrônica (hip hop, trip hop, chill out e ambiente). Primeiro por interesse pessoal, depois, por necessidade, visto que passo pelo menos metade do ano em quase isolamento na zona rural do Brasil e tenho acesso limitado a um estúdio de som ou a produtores. O trabalho em computadores leva muito tempo para ser entendido, especialmente se não você não tiver nenhum background técnico. Alguns desses programas são como a aprender uma nova língua. Demoram vários anos para chegar ao conhecimento total. Senti que queria lançar um disco sem vocais desta vez para concentrar-me 100% nos componentes musicais. Este álbum representa a minha curva de aprendizagem como um produtor, como não coloquei muito a "mão na massa" no início da minha carreira, neste eu fiz literalmente tudo o que existe para fazer nos dias de hoje. Eu tenho muito interesse em trabalhar para produções, filmes, coisas do gênero. Duas das faixas deste álbum já foram utilizados num jogo popular do XBox 360 e eu sempre gostei de contribuir para as trilhas sonoras de filmes de surf ao longo dos anos. As músicas instrumentais são muito mais fáceis para os editores trabalharem e eu estou com vontade de colocar músicas desta coleção em futuros projetos de vídeo e cinema. Um dos meus objetivos para o futuro é também começar a reincorporar as minhas letras e vocais (poemas e rap) em algumas das músicas que faço no computador. A última canção neste álbum tem algumas linhas de voz, na verdade. Foi uma experiência e até gostei do resultado final. 
Quanto da parte instrumental dos seus álbuns anteriores foi feita por você? 
Eu passei a estar mais envolvido no processo de gravação e produção após o álbum Stellafly. Embora, mesmo nos dois primeiros álbuns, eu fosse uma espécie de co-produtor e tinha notas muito detalhadas sobre como algumas das faixas deviam soar. Por exemplo, neste álbum, eu incluí a versão instrumental da "Seabra Is Mad", o que é uma novidade. Quando me encontrei com a equipe de produção do álbum Stellafly, eu disse especificamente que estaríamos retratando uma verdadeira e assustadora história de vida, precisávamos que a canção "encapsulasse" a experiência moderna do surf. Precisávamos fazer uma mistura híbrida de Dick Dale, Goldie drum n bass e hip hop, com um coro de guitarra heavy metal e vocais. Foi assim que a música surgiu. Lembro-me que o guitarrista nunca tinha ouvido falar de Dick Dale e teve de fazer uma pesquisa para obter o som certo (risos). Mas no final deu certo. Algumas das faixas do álbum "Somewhere South Of Somalia" foram gravadas no meu apartamento num leitor de cassetes 4-track. Já no meu quarto álbum, gravado no Rio, fiz quase toda a produção eletrônica num programa chamado Razão, sendo que depois contei com ajuda para gravar os vocais e alguns instrumentos ao vivo. Várias das músicas do Voiceless Blue Raven foram totalmente feitas em um computador na minha casa na selva em AkahtiLândia, no Brasil. Foi uma experiência surreal... Ficar com a cara enfiada num computador durante várias horas, depois ir até à varanda para beber um café, fazer uma pausa e ficar cego com o brilho da folhagem verde e com os tucanos voando. 
O disco será lançado fisicamente ou apenas em formato digital? 
O Voiceless Blue Raven está disponível no iTunes e em todas as principais lojas digitais. Eu não vi nenhuma razão para fazer um lançamento físico internacional. Pessoalmente, eu já não conheço ninguém que compre discos numa loja – a menos que seja um vinil raro de colecionador. É também muito mais correto ambientalmente distribuir um álbum em formato digital. No entanto, fizemos um número limitado de cópias físicas que estarão disponíveis nas minhas exposições. 

http://fluir.terra.com.br/entrevista/experiencia_instrumental